terça-feira, 26 de janeiro de 2016

as mulheres portuguesas são parvas

Esse foi o título que Maria Filomena Mónica deu a um texto publicado em março do ano passado e que é difícil de ler, de tão triste e verdadeiro que é. A prova do que lá se escreve está neste outro texto, publicado por um homem, supostamente com um e-mail escrito pela sua mulher, dando instruções para um dia em que ele tem de tratar das filhas de manhã porque ela tem uma reunião no Porto. É a realidade das mulheres mais privilegiadas e alegadamente esclarecidas a que aqui se retrata, como também era para elas que Maria Filomena Mónica escrevia, retirando, e bem, das suas considerações o inferno das mulheres pobres. Por muito que a classe média tenha sido proletarizada, antes e depois da crise, são as mulheres que têm "reuniões no Porto" aquelas que têm mais instrumentos ao seu dispor para resistir à escravidão da tipificação de género. São mulheres com cursos superiores, que fizeram Erasmus e viajaram com a democratização do transporte aéreo, que têm algum rendimento, e no entanto, aqui estão elas, a repetir o caminho das mães. Não duvido que este texto espelhe a realidade de muitas famílias, de muitas mulheres e homens, basta ver as partilhas que teve nas redes sociais. O problema é mesmo esse. Já estava na altura de as mulheres portuguesas deixarem de ser parvas.

1 comentário:

  1. Parvoíce parece-me a tipificação da "tipificação de género" (não há género, a não ser na gramática, há sexos) em que se pretende elidir a natureza das coisas, essa besta medieval, fascista, opressora, conservadora e, obviamente, católica - basta passar pela experiência da maternidade ou paternidade para se ficar esclarecido sobre as abissais diferenças relacionais da criança com o pai ou com a mãe. enfim, isso não é moderno de se dizer muito menos de acordo com o departamento de estudos sociais do iscte ou da nova e, cruz credo, choca com a beata Judith Butler.
    Por outro lado, só homens absolutamente indigentes precisam de um bilhetinho pós-moderno e politicamente correcto espetado na porta do frigorífico a lembrar da presença e, ai, amor, é isso, amor, com que se cuida de uma criança.


    jac

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