As metáforas conjugais também são as minhas preferidas. Serão, porventura, mais difíceis do que as outras porque expõem
impiedosamente a incapacidade analítica (e relacional) de quem as profere. O
Javier Marías saberia dizer umas coisas sobre esta matéria. Elaborou-as
particularmente bem em “Os enamoramentos” que li perto do osso, orgulhosamente,
no original em castelhano, mas também em "Coração tão branco". Na nossa imprensa, que na opinião é ainda muito
dominada por homens, as metáforas conjugais são fraquinhas e um entendimento político
a três vai demonstrar a fragilidade do pensamento, da linguagem (e das
relações) de tantos pobres cronistas. Será uma altura divertida para
psicoterapeutas lerem jornais. Temos, felizmente, a Ana Sá Lopes, que criou uma
personagem para que a metáfora relacional aplicada à política tenha até um
nome, Vanessa. Mas eu que adoro a Vanessa desde a primeira hora – e na primeira
hora eu andava na faculdade e devorava a coluna ‘Pão e Rosas’ da Ana Sá Lopes
enquanto me enterrava nos sofás da cafetaria Continental – comovo-me mesmo com
os textos em que a Vanessa fica de fora. Recordo um texto, num fim de ciclo
político qualquer, em que a Ana Sá Lopes comparava o arrastar desencantado
desses tempos com o último ano de um casamento, quando os dois empurram o
carrinho no hipermercado, entorpecidos mas cientes, levando ainda para a frente
a familiaridade do gesto. E se houve tanta beleza num texto sobre o fim,
imaginemos o que pode ser escrito sobre o princípio.
Portanto, ao contrário desta tese, só vejo boas perspetivas metafóricas num entendimento político a três. Virão
as inevitáveis brejeirices, sim, mas à altura das melhores penas estará esse
momento - não de uma adorável paixão de liceu ou do fim de uma relação infeliz – do novo e nunca feito. O inédito tem um
enorme potencial conjugal. E metafórico.
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