Nunca mais comi coelho cozinhado
assim. Era a especialidade do meu Pai, a única, na verdade, como convinha à sua
(ainda muito) marialva organização do mundo. Comi esta semana um coelho muito
semelhante ao que ele fazia. Discuti com quem o fez a receita e confirmei, o
segredo está no sangue. O coelho fica a repousar no seu próprio sangue e é
cozinhado com ele no dia seguinte. O coelho do meu Pai era acompanhado de arroz
também cozinhado em sangue. Tudo muito castanho e avinagrado. Uma panela de
pequenas peças esculpidas num barro ácido. Tenho a certeza que haverá filhas
que perseguem ou perseguirão o rasto perdido da textura, do aroma e do sabor de
adoráveis guisados de tofu ou pastéis de seitã. O sabor que eu perdi leva
sangue. Terei que lidar com isso.
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