segunda-feira, 14 de abril de 2014

entorno

“Também, quando somos pequenos, pensamos que podemos prever as dores e as desolações que a idade trará. Imaginamo-nos a ficar sozinhos, divorciados, viúvos; os filhos a afastarem-se de nós, os amigos a morrerem. Imaginamos a perda de estatuto, a perda do desejo – e o já não seremos desejáveis. Podemos ir mais longe e considerar a nossa própria aproximação à morte que, não obstante a companhia de que possamos dispor, só podemos enfrentar sós. Mas tudo isto é pensar no futuro. O que não conseguimos fazer é pensar no futuro e vermo-nos depois a olhar para trás, a partir desse ponto no futuro. Aprender as novas emoções que traz o tempo. Descobrir, por exemplo, que, à medida que os espetadores da nossa vida diminuem, há menos confirmação e por isso menos certeza do que somos e do que fomos. Ainda que mantenhamos registos assíduos – em palavras, som, imagens – podemos descobrir que nos dedicámos a um registo inadequado. Qual era a frase que Adrian costumava citar? ‘A história é essa certeza que se produz no ponto em que as imperfeições da memória se cruzam com as insuficiências da documentação’”.


“O Sentido do Fim”, Julian Barnes, Quetzal.

E enquanto as reciprocidades se multiplicam, sabemos que somos novos?

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