sábado, 10 de outubro de 2009

Dia de reflexão

Duas semanas a andar de saltos rasos e uma tendinite depois, gozo agora do mais delicioso artificialismo da democracia portuguesa, o dia de reflexão. Gozamos todos, mas eu estou proibida por lei de fazer o que nos fiz nos últimos quinze dias. Para mim, tem outro sabor, permitam-me que me sinta especial. E ligeiramente órfã, também.
Tenho pena que a reflexão apenas se aplique às 24 horas antes das eleições. A reflexão devia generalizar-se. E assim mesmo, por decreto, para ser escrupulosamente cumprida. Um dia antes de se casarem, os enamorados estariam proibidos de discorrer sobre as alegrias e tristezas da vida conjugal. Um dia antes de viajarem, os viajantes já teriam as malas feitas, e, prontos para zarpar, almoçariam com os pais ou assistiriam a comédias românticas. O sossego como uma obrigação. O silêncio como acto de higiene. Que bom que seria.
Como não há sempre uma lei a ditar-nos o que fazer, um Estado a meter-se entre os nossos actos - ainda bem - lá teremos que nos arranjar. Estar sós. E encontrar a paz ou as trevas que evitamos quase sempre. É difícil, por isso é que há o dia de reflexão. Alguém reflecte verdadeiramente no dia de reflexão? Provavelmente, não. Mas há descanso. E as tréguas, ainda que falsas, são necessárias. Agora vamos parar. Não necessariamente para pensar. Vamos apenas parar. Só um bocadinho.

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