quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Uma anedota de portugueses

Num vídeo literalmente sem graça, uma mulher brasileira muito bonita diz, sem subtilezas e sem originalidade em relação à tradição de anedotas do seu país, que os portugueses são burros. Em termos de sofisticação, é mais ou menos o equivalente ao sketch dos alentejanos nos “Malucos do Riso”. Dois anos depois, há portugueses que se indignam com o vídeo. I rest my case.
E se escrevo com a mão esquerda estas linhas (tendinite oblige), é porque o episódio fez-me reflectir sobre o humor. Será que, como na Arte, é humor aquilo que o criador diz que é humor? O vídeo daquela senhora muito bonita não tem graça, mas é assim que aparece no programa “Saia Justa”, que pelo menos em tempos teve muita piada. O vídeo é carimbado como sendo de humor, logo é humor. Parece-me lógico. Só que não tem graça. E o que é que se faz a uma coisa que não tem graça? Não se liga nenhuma. E o que é que uns quantos portugueses fizeram? Uma petição na Internet sobre o assunto, dois anos depois. I rest my case.
Esta não é uma história de inteligência desde o início. O que me parece mais dramático é que existam pessoas, suponho que jornalistas, que caucionaram a divulgação de notícias em horário nobre, inclusivamente no serviço público de televisão, sobre um vídeo com dois anos de antiguidade e uma petição lançada no facebook. Hoje de manhã já havia uma reacção da própria senhora muito bonita, que pensa mesmo que os portugueses são burros porque mais ou menos que pedia desculpa, ao mesmo tempo que dizia que aquilo era "humor inteligente". A difusão daquela "notícia" na televisão, responsabilidade de alguns jornalistas sem vida própria que vivem dentro do facebook e acham que o lá se passa é que é vida, transformou o que era a burrice de alguns portugueses, na burrice de um país inteiro. Não há nada que tenha graça nesta história. Para lá de burrice, é uma tristeza.

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