quinta-feira, 25 de agosto de 2016

ativismo do sentir



“No estamos acostumbrados a que triunfe el activismo del sentir. Pero ocurre. El único património de Sherazade es la palabra poética, la boca que da a luz un lenguaje que no pretende dominar. Y esse activismo del sentir consigue un primer efecto revolucionário: desequilibra al poder”. A expressão “ativismo do sentir” funciona muito bem em português talvez porque tenha sido inventada por um galego. Não sei se o escritor Manuel Rivas tem a patente, mas usou-a num artigo na revista do El País que li para “me entreter” – curiosa expressão – enquanto tomava café num parque de campismo na Galiza, em julho. A crónica de Rivas era um elogio às mulheres no atual panorama cultural espanhol. Faz, por isso, todo o sentido que tenha voltado a encontrar-me com a mesma ideia na introdução da última Lenny Letter, escrita por Lena Dunham, a mulher que voltou a por o feminismo na agenda nos Estados Unidos. A autora da série “Girls” teve uma infância privilegiada e a mãe permitia-lhe faltar à escola para que ela pudesse repor os níveis de sanidade mental, o que era feito a ler, comer bolos, comprar t-shirts absurdas com o dinheiro do seu porquinho-mealheiro e outras coisas reais ou fictícias. “My mother had given me permission to relax every fiber of my being and, in doing so, reclaim my fight”. Sim, fight, luta. Ir à escola todos os dias é uma luta. Viver todos os dias cansa, já dizia o mais inspirado título de todos os livros lamechas de Pedro Paixão. Lena dá o salto citando a feminista Audre Lorde: “Caring for myself is not self-indulgence, it is self-preservation, and that is an act of political warfare.” E é mesmo. E é bem verdade que para as mulheres é mais difícil permitirem-se descansar, ou porque materialmente não podem ou porque a fábrica de culpa gerada para as submeter requer os seus serviços. Lena dá novamente um salto, para ir encontrar-se com o Rivas e o seu “ativismo do sentir”: “Every single one of you is engaged in your own act of political warfare. Whether it’s drawing, baking, doing a fucking awesome job at something that’s traditionally male, OR being tough as nails at a job that’s traditionally female, you are reconceiving what activism looks like”. Talvez o laço não se aperte na Galiza. Foi Clarice Lispector que escreveu: “Pensar é um ato, sentir é um facto”.

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