“No estamos acostumbrados a que
triunfe el activismo del sentir. Pero ocurre. El único património de Sherazade
es la palabra poética, la boca que da a luz un lenguaje que no pretende
dominar. Y esse activismo del sentir consigue un primer efecto revolucionário: desequilibra
al poder”. A expressão “ativismo do sentir” funciona muito bem em português
talvez porque tenha sido inventada por um galego. Não sei se o escritor Manuel
Rivas tem a patente, mas usou-a num artigo na revista do El País que li para “me
entreter” – curiosa expressão – enquanto tomava café num parque de campismo na
Galiza, em julho. A crónica de Rivas era um elogio às mulheres no atual
panorama cultural espanhol. Faz, por isso, todo o sentido que tenha voltado a
encontrar-me com a mesma ideia na introdução da última Lenny Letter, escrita
por Lena Dunham, a mulher que voltou a por o feminismo na agenda nos Estados
Unidos. A autora da série “Girls” teve uma infância privilegiada e a mãe
permitia-lhe faltar à escola para que ela pudesse repor os níveis de sanidade
mental, o que era feito a ler, comer bolos, comprar t-shirts absurdas com o
dinheiro do seu porquinho-mealheiro e outras coisas reais ou fictícias. “My mother had given me permission
to relax every fiber of my being and, in doing so, reclaim my fight”. Sim,
fight, luta. Ir à escola todos os dias é uma luta. Viver todos os dias cansa, já
dizia o mais inspirado título de todos os livros lamechas de Pedro Paixão. Lena dá o salto citando a feminista Audre
Lorde: “Caring for myself is not self-indulgence, it is self-preservation, and
that is an act of political warfare.” E é mesmo. E é bem verdade que
para as mulheres é mais difícil permitirem-se descansar, ou porque
materialmente não podem ou porque a fábrica de culpa gerada para as submeter
requer os seus serviços. Lena dá novamente um salto, para ir encontrar-se com o
Rivas e o seu “ativismo do sentir”: “Every single one of you is engaged in your
own act of political warfare. Whether
it’s drawing, baking, doing a fucking awesome job at something that’s
traditionally male, OR being tough as nails at a job that’s traditionally
female, you are reconceiving what activism looks like”. Talvez o laço não
se aperte na Galiza. Foi Clarice Lispector que escreveu: “Pensar é um ato, sentir
é um facto”.
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