A liberdade criativa deve ser um
dado adquirido. A criação estar sujeita à crítica e à discussão públicas é
outra coisa que deve ser um dado adquirido numa sociedade democrática. Filipe
Faísca, no uso da sua liberdade criativa, apresentou na ModaLisboa uma coleção
em que as mulheres estão com a cara coberta por um véu. Uma pesquisa de
notícias mostra a neutralidade com que este aspeto foi tratado pela imprensa. Nalguns
casos, o elemento ‘véu’ está ausente de um relato que se destina quase exclusivamente
a informar o que pessoas, neste caso, mulheres, levam vestido. Não é só o peso
que as questões de género (não) têm nas decisões editoriais, é simplesmente não
ver a notícia, é falhar um ‘lead’. Costumo ter pudor em articular estas afirmações,
mas este caso é flagrante: é mau jornalismo. Em pleno combate ao Estado Islâmico
uma fila de mulheres de lenço no rosto parece não ter intrigado ninguém. Uma
fila de mulheres com os rostos cobertos por véus não puxou o gatilho do
pensamento de ninguém? Quase ninguém. A exceção de que dei conta foi o Diário
de Notícias, que na segunda-feira chamava o assunto à primeira página: "Estilista
usa véus na ModaLisboa mas recusa intenção pública". Filipe Faísca recusa
o que quiser, eu recuso esta coleção.
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