sexta-feira, 10 de outubro de 2014

nano-narrativas de liceu #1

           Era uma escola grande. Chegou a parecer-lhe enorme. Tinha uma lista considerável de lugares em que se conseguia ter uma perturbação mínima da solidão. Não eram só os micro-recreios individuais que a abundância de espaço e luz fazia crescer por geração espontânea, com direito a vista para o rio e árvores de diversos portes. Ou as arestas daquele quadrado que, rezava a lenda, tinha sido projetado para ringue de patinagem. Havia sítios em que era possível desaparecer. Os outros diluíam-se num movimento de vozes e de passos, que se aproximava à medida que desciam as escadas para se afastar no consolo infalível de dobrarem a esquina para o corredor do último piso. Ninguém olha para debaixo de uma escada que já não vai a lado nenhum. A escola tinha pelo menos três grandes escadarias e só a do meio era muito utilizada. Sozinha naquelas cabanas acidentais de betão, lia, comia, estava ali. Sobretudo estava ali. Não era um estatuto de que se pudesse orgulhar em voz alta, mas era uma conquista. Fora para uma escola maior e ganhara um lugar. Também ali, a solidão passaria por maturidade.

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