sábado, 20 de setembro de 2014



A sala cheia do querido cinema King para ver “A Dança”, de Frederick Wiseman, foi perecendo à medida que o filme avançava e acredito que não foi a duração do documentário que forçou as deserções, mas a circularidade da narrativa. Estavam lá as imagens da beleza mil vezes captada que transforma a dança (clássica, sobretudo) numa arte tão difícil de se deixar tomar por outras, a fotografia e o cinema. Mas a confeção dos tutus, os corpos em contraluz na barra, as silhuetas em alongamento, todo o repertório estafado e facilmente amado serviam um princípio que cabe pouco no cliché quando é tratado com lealdade. O trabalho é pouco sexy. A exaustão é perturbadora à galeria dos lugares comuns que louvam a perseguição do sonho sem mostrarem o caminho como ele é, demasiadas vezes frustrante e equivocado de sentido. Num recomeço de ano que é, como todos, uma continuação circular e uma nova oportunidade, temo a falta de forças e a tentação do enfeite. O que tenho que dizer a mim mesma no início, como no meio e no fim, não me vai salvar e é só: ao trabalho. Assim, sem exclamação. Circular e aborrecido, como, tenho que acreditar, quase tudo o que vale a pena.

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