A sala cheia do querido cinema
King para ver “A Dança”, de Frederick Wiseman, foi perecendo à medida que o
filme avançava e acredito que não foi a duração do documentário que forçou as
deserções, mas a circularidade da narrativa. Estavam lá as imagens da beleza
mil vezes captada que transforma a dança (clássica, sobretudo) numa arte tão
difícil de se deixar tomar por outras, a fotografia e o cinema. Mas a confeção
dos tutus, os corpos em contraluz na barra, as silhuetas em alongamento, todo o
repertório estafado e facilmente amado serviam um princípio que cabe pouco no
cliché quando é tratado com lealdade. O trabalho é pouco sexy. A exaustão é
perturbadora à galeria dos lugares comuns que louvam a perseguição do sonho sem
mostrarem o caminho como ele é, demasiadas vezes frustrante e equivocado de
sentido. Num recomeço de ano que é, como todos, uma continuação circular e uma
nova oportunidade, temo a falta de forças e a tentação do enfeite. O que tenho
que dizer a mim mesma no início, como no meio e no fim, não me vai salvar e é
só: ao trabalho. Assim, sem exclamação. Circular e aborrecido, como, tenho que acreditar, quase tudo
o que vale a pena.
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