quinta-feira, 31 de outubro de 2013

linhas


Perco dezenas de histórias por dia ao andar menos de comboio. As nesgas de conversas que me roubavam à leitura, os olhares enamorados de quem não tem mais ninguém à volta numa cápsula cheia de gente, os silêncios amachucados ao telefone. E as solidariedades. “Poise a mochila no meu colo. A sério, vai tão carregada”. Há inquéritos que foram conduzidos em várias linhas de comboio europeias que concluíram que os seus passageiros não têm o sentimento de tempo perdido. Quando passei a frequentar a linha de Cascais tornei-me na arrogante passageira que nunca perde o comboio. Na linha de Azambuja nunca me acontecia, os comboios fugiam, não valia de nada correr. Agora conduzo mais, as mãos simulam determinação ao volante, maquilhagem esboçada nos semáforos, tentativa de sossego dos pés, nervosos nos pedais. E, arrogante, não me larga a esperança. Acabei de apanhar um comboio com uma história lá dentro que não vou só escutar.

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