Perco dezenas de histórias por
dia ao andar menos de comboio. As nesgas de conversas que me roubavam à
leitura, os olhares enamorados de quem não tem mais ninguém à volta numa cápsula
cheia de gente, os silêncios amachucados ao telefone. E as solidariedades. “Poise
a mochila no meu colo. A sério, vai tão carregada”. Há inquéritos que foram
conduzidos em várias linhas de comboio europeias que concluíram que os seus
passageiros não têm o sentimento de tempo perdido. Quando passei a frequentar a
linha de Cascais tornei-me na arrogante passageira que nunca perde o comboio. Na
linha de Azambuja nunca me acontecia, os comboios fugiam, não valia de nada
correr. Agora conduzo mais, as mãos simulam determinação ao volante, maquilhagem
esboçada nos semáforos, tentativa de sossego dos pés, nervosos nos pedais. E, arrogante,
não me larga a esperança. Acabei de apanhar um comboio com uma história lá
dentro que não vou só escutar.
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