quarta-feira, 7 de agosto de 2013

suburbanos

A calma é maior do que no campo. Ou parece. No campo não é calma, é vastidão - e nós no meio. Há os barulhos não atribuíveis de que não se tem medo porque são dali. No campo não se diz ‘o campo’, como a cidade raramente se nomeia. A calma só existe nos subúrbios bons porque é uma criação. As almas todas juntas, separadas em caixas, a fingir que não se ouvem umas às outras a fazer amor, a arrumar a cozinha, a ver má televisão, a deambular na insónia. Separados de um centro por uma linha de comboio, por uma estrada que, pensamos, está agora vazia. Protegidos de acidentes e roubos, acreditamos, com saudades da terra, do campo, exilados das nossas pronúncias que até já dizemos ‘o campo’. E por isso o verdadeiro medo está aqui. Há um terror que é só dos subúrbios bons. Sentimo-lo quando regressamos tarde.

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