As mesmas coisas. Sempre as mesmas coisas a sair das bocas. Ou é de mim. Tem que ser de mim, há tantas coisas novas a serem ditas. Oiço mal, concedo, porque às vezes parece que a maior parte das palavras já estão agrupadas. Mas na literatura não há desculpas. É pôr de lado a tralha que já se sabe, por conhecimento ou intuição, o que se escreve pelo efeito e pela lamechice. Peguei, então, em “Los enamoramientos”, de Javier Marías, sem evitar o divertimento do engano das senhoras no areal, retidas pela capa de idílio amoroso. A ironia feita objeto, um primor. E sujeitei-me aquilo. À melhor literatura, à melhor crueldade, ao melhor cinismo. Indefesa às verdades no vento da praia, como quem recebe pancada com toalhas molhadas para não deixar marca. No final do livro já me tinha livrado da palidez pré-balnear e isso era a gargalhada final do autor. O mau aspeto ia melhor com esta angústia literária. Resgatei-me rapidamente. Não é nada disso, estás é bem assim, a leres bons livros mas com boas cores. E contra os lugares comuns das mesmas coisas a serem repetidas como martelos, abri o facebook – estás de férias, larga isso, são sempre as mesmas coisas – e lá estava. Igual a tantas demonstrações públicas de felicidade. Igual e completamente única. A minha professora de espanhol está apaixonada. E eu fiquei tão feliz por ela, e muito agradecida que o tenha partilhado daquela maneira. O vulgar faz-se precioso todos os dias. Estou vingada, Javier Marías. E pronta para o teu próximo livro.
Sem comentários:
Enviar um comentário