sábado, 18 de maio de 2013

ser o outro

Quando peço ao outro que se ponha no meu lugar, tenho que procurar fazer o mesmo. Mas não é apenas por uma questão de honestidade que eu respeito quem não pensa como eu. É também porque essa é a única maneira de dialogar. Eu respeito a posição do outro, com o qual não concordo, também porque essa é a única forma de o outro poder algum dia pensar de outra forma.

Não é suposto pensarmos da mesma maneira sobre tudo, mas quando defendo a adoção por casais do mesmo sexo não estou a diletantemente procurar que os outros gostem das mesmas coisas do que eu. Não, estou a advogar por direitos humanos. Acredito que estou do lado certo da História e quero que outros estejam também para que o mundo se torne melhor para todos. Faço-o porque o apoio do outro que não pensa como eu é essencial nessa construção.

Na discussão e votação do projeto de lei da co-adoção deu-se esta coisa incrível. O mundo moveu-se, deu um salto pequeno mas muito importante. Isso só aconteceu porque houve pessoas que pensavam de determinada forma e agiam de determinada forma e, fruto da discussão, do diálogo, da reflexão, passaram a pensar e a agir de outra maneira.

Acredito que esta matéria não tem um cunho de esquerda ou direita, sabendo que a primeira tomou a dianteira na defesa destes direitos. O facto de essa clivagem estar a esbater-se, prova-o. Não me canso de recordar David Cameron, líder do Partido Conservador, primeiro-ministro da Grã-Bretanha, dizer: “Eu não defendo o casamento entre pessoas do mesmo sexo apesar de ser conservador, eu defendo o casamento entre pessoas do mesmo sexo porque sou conservador”.

A perspetiva histórica ajuda tanto e é tão acessível. Ninguém precisa de ler tratados ou resolver fórmulas matemáticas para saber que os direitos das mulheres e dos negros passaram por processos semelhantes.

Nesses processos como neste houve ruturas, sim, houve confronto, sim. Mas houve sobretudo diálogo. É nisso que eu acredito. Mesmo contra o insulto. Sobretudo contra o insulto. Quando oiço à minha volta, em meios supostamente informados, falar em “paneleiros” e “fufas” não quero e não vou sucumbir. O insulto não me vai transformar naquilo que não sou, uma radical.

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