“E ela tem consciência de algo mais, e disso não pude aperceber-me apenas com um encontro na aula. Considera a cultura importante de uma maneira reverente e antiquada. Não que se trate de uma coisa da qual deseje viver. Não deseja e não poderia – foi criada de um modo demasiado tradicional para isso -, mas é importante e maravilhoso como nenhuma outra coisa de que ela tenha conhecimento. É uma daquelas pessoas que consideram os Impressionistas arrebatadores, mas tem de olhar longa e profundamente – e sempre com um sentimento de irritante confusão – para um Picasso cubista, a tentar com todas as suas forças captar a ideia subjacente.”
Philip Roth, “O animal moribundo”, Dom Quixote.
O “animal moribundo” detém-se aqui numa observação quase terna, do início da paixão pela aluna aristocrata cubana. Penélope Cruz em estado de graça, no filme. Isabel Coixet castigou o “animal moribundo” no Cinema, enquanto Philip Roth limitara-se a administrar-lhe doses brutais de dor. O personagem semi-amoral passa pelo mesmo túnel de sofrimento mas na Literatura não há um enquadramento para o punir, a vida limita-se a acontecer e tende, afinal, a dar-lhe razão. Para conhecer o “animal moribundo” é mesmo preciso ler o livro, enquanto que para conhecer Consuelo o melhor é ler o livro e ver o filme. Várias vezes.
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