O problema das insónias é gostar-se tanto delas. Muito como os cigarros, que tantas vezes as ajudam, no amor doentio de ter os olhos abertos. Até se pode fazer de tudo o que se diz que é para fazer. Desporto de dia e, antes da hora crítica, o banho quente e o leite morno. Desliga-se a televisão e coloca-se o livro no colo. Só que não chega. O livro sublinha-se, tiram-se apontamentos, num desdobramento que faz as horas correrem. Tapa-se o relógio, espera-se que a ignorância ajude. Mas não há mentiras misericordiosas. O cansaço ocupa um espaço tal que, à terceira noite, parece que o corpo decidiu sozinho. Hoje vou dormir cedo. Só que o corpo quer pagar para ver, conformado, o silêncio da madrugada. É a paz possível e também tem um tempo para terminar. Quando o primeiro autocarro chiar na curva antes da paragem, falta pouco.
Estamos no mesmo sítio. No sono e na vigília.
é como se escrevesse eu próprio. porém, escapo ao banho quente e ao leite morno, troco-os pelo licor e o kainever. ainda assim, dificilmente deixo de ouvir o chiar do autocarro pela madrugada.
ResponderEliminarE não se pode dizer que o cansaço mate a insónia. pelo contrário.
Tive que fazer um pesquisa no google para saber o que kainever... Bom, os efeitos secundários são de meter medo :) Sou daquelas que não pode ter medicamentos para dormir em casa. É talvez a única droga (além de cigarros e café) de que corro o risco de ficar adicta.
ResponderEliminarEu prefiro viver na realidade do sonho. Tem sido essa a minha "insónia". E por ela mantenho-me sempre acordada.
ResponderEliminarÉ essa que nos mantém acordados. No sono ou na vigília...
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