segunda-feira, 5 de julho de 2010

Abrir a blusa, mostrar a cara, fechar o abraço

Em dois concertos, Brasil I, Brasil II. No público contido da Roberta Sá, sobretudo portugueses, em abstinência de um bom samba, como se viu no final. Estávamos loucos para sambar mal um bom samba. O Zambujo foi muito bonito, mas agradou sobretudo aos brasileiros presentes. Gostaram aqueles que ouvi no final do concerto, com as suas pronúncias cariocas e paulistanas, as suas roupas correctas, os seus “papos-cabeça”, as suas histórias de memórias de outros concertos, que ouvi enquanto esperava. Uma mulher lembrava a Cássia Eller a abrir a blusa enquanto cantava “Brasil, mostra a tua cara”. Uma recordação de meter inveja. Dois dias depois, uma Ana Carolina tapadíssima entrava em palco para ser amada, como sabia que seria. Pessoas que não têm vergonha de gritar “Ana, eu te amo” e “Ana Carolina, cadê você, eu vim aqui só pra te ver” merecem o meu respeito. Coisa brega, música de novela, pois é, talvez, mas não faz mal. Assumo tudo e faço a síntese. Apesar de uma fraternidade geral provocada pela humilhação da Argentina, dei comigo a pensar que num país onde um quase desconhecido é cumprimentado com um abraço há tanta gente que não se toca. Às vezes, parece mesmo que a luta de classes é o motor da história.

7 comentários:

  1. com um titulo destes pensei que tivesses aberto um franchising do "E Deus Criou a Mulher". de facto há gente que não se toca. e não só neste país. aliás no que toca aos afectos as fronteiras têm pouco a ver com isso. estamos todos no mesmo barco é o que é.

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  2. Sou uma brasileira prá lá de orgulhosa em ver,ler e ouvir os portugueses literalmente rendidos aos encantos de uma coisa que modéstia à parte nós brasileiros temos em grande quantidade,talento musical.Principalmente em uma semana que faltou talento em outra paixão... Privilegiada fui ao camarim de Roberta Sá e presenciei uma senhora portuguesae seu marido falando entusiasmadamente como Roberta Sá era "espetácular"com o Cd e Dvd nas mãos entre sorrisos e autógrafos.Confesso que eu aqui a pouco mais de 4 meses, estava também sedenta dessa brasilidade deliciosa que encanta o mundo mas principalmente a nós mesmos e ali me dei conta de estar saudosa.Eu particularmente venho exercendo como sempre a minha brasilidade nos afetos abraçando a todos os que conheço, nessa terra tão querida que venho dia a dia aprendendo a amar!

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  3. Cheguei aqui através do "E Deus criou a mulher". Escreves muito bem, parabéns. Sou pai e tento, a todo custo, que meu filho seja carequinha tal qual o do seu texto. Até agora tenho conseguido, se é que me entende.

    Então... Marx dita as relações sociais e Freud as familiares?

    Você é português?

    Um abraço.

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  4. É elementar mas nem sempre todos o entendem.
    Bonito.

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  5. Sou portuguesa. Não sei bem o que ditam Marx e Freud, mas lá terão a sua influência. Obrigada pela visita. Bem-vindos.

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  6. descobri o blog há pouco tempo, e a julgar por este primeiro post que leio, já me vejo a visitá-lo mais vezes. e embora seja brasileiro, não é por isso.

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  7. Parabéns pelos excelentes texto e blogue.

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