quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Berlim


Este ano infeliz para o mundo quis ser o ano mais feliz da minha vida. Sim, sim, estou a medir bem as palavras. Em novembro tentei conciliar a maior derrota político-cívica que me foi infligida com uma sucessão de vitórias pessoais. Fiz como sempre - a ler livros, ver filmes, correr, fazer yoga - , mas contando agora com o que não tive sempre. Não se evitaram semanas depressivas, entre o querer e o não querer perceber a eleição de Trump. Parecia 1933. Parece 1933.

Os Parov Stelar estão confirmados para um festival em 2017. Em setembro estava em Berlim num restaurante tailandês a comer uma refeição memorável – e foram algumas só este ano -, e ouvia-se o “Booty Swing”. A canção simples e feliz, com sonoridades dos anos 1920 e início dos anos 1930, que voltei a ouvir hoje, solta uma gargalhada berlinense de tempos felizes, os que vivi e o que outros viveram antes de outros terrores. Contra o terror, não somos já os mesmos mas somos ainda os mesmos. É esse núcleo sem medo que nos querem tirar. Só que nesse lugar mesmo no centro do amor ouve-se “Booty Swing” e estamos todos a dançar. Num cabaré berlinense. Numa discoteca de seis pistas. 

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