Liza Minelli e Bob Fosse, rodagem de "Cabaret"
“No entanto, apesar de todas as
brincadeiras de Bernhard a festa não resultou. As pessoas repartiram-se em
grupos e cliques; e mesmo quando a paródia estava no auge, pelo menos uma
quarta parte dos convidados falava de política em voz baixa e com um ar grave. De
facto, alguns tinham vindo a casa de Bernhard apenas para se encontrarem uns
com os outros e discutirem os seus assuntos particulares, e nem se deram ao
trabalho de fingir que tomavam parte nas atividades sociais. Poderiam igualmente
estar nos escritórios ou em casa.
Ao escurecer, uma rapariga
começou a cantar. Cantava em russo e, como sempre, a canção era triste. Os criados
trouxeram copos e uma grande taça de ponche. Começou a ficar frio. Havia milhões
de estrelas no céu. No grande lago de águas tranquilas, os últimos barcos à
vela balouçavam como fantasmas com a brisa suave e incerta da noite. O gramofone
continuava a tocar. Encostei-me às almofadas, ouvindo um cirurgião judeu que
sustentava que a França não podia compreender a Alemanha porque nunca tinha experimentado
nada comparável com o ambiente neurótico do pós-guerra alemão. Uma rapariga no
meio de um grupo de rapazes soltou uma grande risada estridente. Lá longe, na
cidade, contavam-se os votos. Pensei em Natalia: escapara-se – talvez na altura
certa. Por muito adiada que a decisão possa ser, toda a gente está condenada. Esta
noite decorrem os ensaios de uma catástrofe. Esta noite é a última de uma época”.
“Adeus a Berlim”, Christopher Isherwood.
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