terça-feira, 1 de setembro de 2015



Liza Minelli e Bob Fosse, rodagem de "Cabaret"



“No entanto, apesar de todas as brincadeiras de Bernhard a festa não resultou. As pessoas repartiram-se em grupos e cliques; e mesmo quando a paródia estava no auge, pelo menos uma quarta parte dos convidados falava de política em voz baixa e com um ar grave. De facto, alguns tinham vindo a casa de Bernhard apenas para se encontrarem uns com os outros e discutirem os seus assuntos particulares, e nem se deram ao trabalho de fingir que tomavam parte nas atividades sociais. Poderiam igualmente estar nos escritórios ou em casa.
Ao escurecer, uma rapariga começou a cantar. Cantava em russo e, como sempre, a canção era triste. Os criados trouxeram copos e uma grande taça de ponche. Começou a ficar frio. Havia milhões de estrelas no céu. No grande lago de águas tranquilas, os últimos barcos à vela balouçavam como fantasmas com a brisa suave e incerta da noite. O gramofone continuava a tocar. Encostei-me às almofadas, ouvindo um cirurgião judeu que sustentava que a França não podia compreender a Alemanha porque nunca tinha experimentado nada comparável com o ambiente neurótico do pós-guerra alemão. Uma rapariga no meio de um grupo de rapazes soltou uma grande risada estridente. Lá longe, na cidade, contavam-se os votos. Pensei em Natalia: escapara-se – talvez na altura certa. Por muito adiada que a decisão possa ser, toda a gente está condenada. Esta noite decorrem os ensaios de uma catástrofe. Esta noite é a última de uma época”.

“Adeus a Berlim”, Christopher Isherwood.



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