Greta Garbo em "Rainha Cristina", de Rouben Mamoulian.
Ando treinada para detetar o
anacronismo e fugir dele, e fiquei ainda mais pasmada perante um filme como “Rainha Cristina”, de Rouben Mamoulian, protagonizado por Greta Garbo. O filme é de
1933. Verifiquei e voltei a confirmar, como se o preto e branco não fosse
suficiente. Como se Garbo não fosse suficiente. A modernidade do filme é esmagadora.
Nem me refiro ao beijo na boca que a Rainha dá à sua aia, um piscar de olho que
se podia ficar pelo subtexto, pela alusão, mas sobretudo à representação da
mulher. Mesmo hoje a representação no Cinema de tal força, independência e inteligência
numa mulher é rara, demasiado rara. “Rainha Cristina” inquieta-nos a todas. Não
é só por constatarmos a persistência de determinadas representações das
mulheres, este filme avisa-nos a não subestimar o passado. Não só o passado
onde se encontra a rainha sueca, a que existiu efetivamente, abdicando do trono
em 1654, mas o facto de em 1933 ter sido possível a um grande estúdio fazer aquele
filme. Em 1933 mulheres de todo o mundo viram aquela mulher. Que a vejam hoje,
outra vez e outra vez.
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