quinta-feira, 16 de abril de 2015

padarias apátridas

A proliferação de ‘padarias portuguesas’ e suas congéneres está a ter óbvias consequências na generalização do comércio de péssimo pão, mas tem também outras, talvez menos notadas. Os pães de Deus entraram num processo de deformação que mete dó, grandes e descuidados, como que atirados sem amor para um forno que não tem melhor remédio do que cosê-los assim, mal-amados. E se uns engordam sem critério outros emagrecem com equivalente tragédia. Mil-folhas não é apenas uma designação bonita e o título de um álbum de Sonic Youth. O nome tem que existir em relação efetiva com as camadas suficientes de massa folhada que o justificam. Sob pena de se tornar a ilustração para qualquer infeliz tese semiótica, há que resgatar os mil-folhas a estas pastelarias de hipermercado e devolver-lhes as folhas que os fazem ser o que são. 

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