A proliferação de ‘padarias
portuguesas’ e suas congéneres está a ter óbvias consequências na generalização
do comércio de péssimo pão, mas tem também outras, talvez menos notadas. Os pães
de Deus entraram num processo de deformação que mete dó, grandes e descuidados,
como que atirados sem amor para um forno que não tem melhor remédio do que cosê-los
assim, mal-amados. E se uns engordam sem critério outros emagrecem com
equivalente tragédia. Mil-folhas não é apenas uma designação bonita e o título
de um álbum de Sonic Youth. O nome tem que existir em relação efetiva com as camadas
suficientes de massa folhada que o justificam. Sob pena de se tornar a ilustração
para qualquer infeliz tese semiótica, há que resgatar os mil-folhas a estas
pastelarias de hipermercado e devolver-lhes as folhas que os fazem ser o que são.
Sem comentários:
Enviar um comentário