sexta-feira, 12 de dezembro de 2014




A câmara tosca do meu telemóvel fixou este desenho de José Escada, de 1980. É dos seus últimos trabalhos, os primeiros acessíveis a quem entra na galeria de São Roque, na rua de São Bento, para encontrar a exposição “José Escada, um príncipe fora do tempo”. Agora penso que se não fora da sua última fase talvez não me tivesse encantado assim. Este traço (os olhos, os olhos) e a ausência de cor seriam outros sem a diversidade do que ficou para trás. Depuração? Talvez. É um conceito que não domino bem. Depois de ver toda a exposição, voltei aos primeiros desenhos, por força da organização do espaço e porque queria ficar a sós com eles, com este sobretudo. É do ano do meu nascimento, que é um ego- detalhe que me toca inevitavelmente. Não consegui a solidão com o quadro. Não é só o meu reflexo que se vê na fotografia, é também o do galerista.
Apesar dos antiquários, apesar de lá ter vivido Amália, apesar de ligar zonas da cidade que absolutamente adoro, a rua de São Bento é um corredor opressor, a visão terrena de um passadiço de entrada no Purgatório. Na melhor definição de uma amiga, a rua de São Bento tem mau ‘karma’. Estou por isso vitoriosa. Até ao final de dezembro há uma porta para fora do Purgatório. Fica no número 269. 

Sem comentários:

Enviar um comentário