O ano começou com a enorme felicidade
de termos conseguido colocar o projeto “Famílias, aqui” (literalmente) na rua.
Trazíamos estes retratos no nosso coração e era tempo de os darmos a conhecer. O conjunto
era representativo o suficiente, embora a diversidade geográfica não esteja
plenamente alcançada. Lutámos para ter duas famílias de homens, quisemos que
uma mulher independente fosse fotografada com a sua filha, saímos duas vezes de
Portugal, viajámos ao Algarve, em todo o lado uma generosidade infinita
abriu-nos portas de casas. Aqui, o termo em inglês é melhor, na sua economia
sem preconceito, home, em vez de lar (que tem outras coisas lá dentro). A visibilidade
feita posição, a política dentro de nós, por causa de nós e por aqueles que como
nós precisam dela. O nós não é majestático. É coisa republicana, da igualdade
feita no concreto do amor.
A morte de Eusébio fez com que a
Câmara de Lisboa retirasse os ‘mupis’, para os voltar a colocar na última
quinta-feira, dia da discussão em plenário da Assembleia da República da
proposta de referendo do PSD. Se em tudo há absurdo é porque o destino não é
para a nossa compreensão. “A vida tem sempre razão”, diz a canção.
Tenho poucas invejas, a de quem escreve muito
bem é uma, só suplantada pela verdadeira inveja, a que nutro pelas fotógrafas e
fotógrafos. Elas e eles dizem sem a violência da palavra, mostram o que
registaram num clique, que, ingénua, imagino sempre discreto, delicado e
elegante, enquanto eu tenho que quase gritar para obter uma resposta e a
pergunta tem que ser bem colocada, não pode falhar o verbo nem o ângulo ou a
resposta que se quer retirar, mesmo que não se obtenha, vale de muito pouco ou
está estragada pela minha falta de inteligência ao colocar a pergunta. Demasiada
violência para resultado tão parco. E mesmo que não seja assim (e não é), uma
boa imagem do quotidiano tem uma vitória coberta de (merecida) glória. Obtê-la não
é fácil, mas parece e isso reverte a favor da sua eficácia.
Estas imagens mostram famílias feitas
de sonho e projeto. Como as outras. Quiseram sê-lo. E estão aí. Desprotegidas legalmente,
erguem a sua coragem todos os dias, embora haja dias em que a coragem seja
necessariamente maior, como a coragem de Fabíola, doente de cancro, que escreveu
aos deputados contando-lhes porque é que é fundamental que a outra mãe dos seus
filhos o seja legalmente. Tão fácil de entender. É só preciso um coração e a inteligência
que o guie.
Na semana passada, aprendi que um
coração não chega. Ou é desmesuradamente livre ou sabe que tem de estar ao lado
das pessoas e das organizações que lutam pelos direitos fundamentais e não daquelas
que (no mínimo, e só nomeio o mínimo) hesitam. Hoje recebi uma mensagem
inesperada, sobretudo pelo vocabulário usado pelo remetente, dizia: “a luta continua”. Continua,
sim. E é imparável. Não é a falta de convicção que não o seja que me
entristece. O que me aperta o coração é pensar que pode não chegar a tempo de
tantas e tantos que precisam da mudança hoje, agora. Replico o final do belíssimo(e certeiro) texto que José Soeiro assina no P3: “basta não ficarmos quietos”.
Sim. Não estamos do lado da negação do outro. É um grande alento saber que se faz uma coisa pela positiva. Sim é a resposta mais bonita que se pode dar. E podia dizer “não”, “não passará”, desde logo. O "não" é profundamente necessário e poderá ser igualmente transformador. Mas escolho dizer outra palavra. Aquela que Yoko Ono inscreveu numa instalação que tive o privilégio de ver. Sobe-se uma escada e atenta-se numa palavra escrita num ‘teto’, acho que é preciso uma lupa para se ler, já não me lembro. Sei o que li: “Sim”. E não é “sim”num qualquer referendo homofóbico. É só sim. "De nada adianta ficar-se de fora/A hora do sim é o descuido do não".
Sim. Não estamos do lado da negação do outro. É um grande alento saber que se faz uma coisa pela positiva. Sim é a resposta mais bonita que se pode dar. E podia dizer “não”, “não passará”, desde logo. O "não" é profundamente necessário e poderá ser igualmente transformador. Mas escolho dizer outra palavra. Aquela que Yoko Ono inscreveu numa instalação que tive o privilégio de ver. Sobe-se uma escada e atenta-se numa palavra escrita num ‘teto’, acho que é preciso uma lupa para se ler, já não me lembro. Sei o que li: “Sim”. E não é “sim”num qualquer referendo homofóbico. É só sim. "De nada adianta ficar-se de fora/A hora do sim é o descuido do não".
A luta continua,
sim.
Sem comentários:
Enviar um comentário