terça-feira, 8 de outubro de 2013

cape cod


Coloquei a imagem debaixo da secretária. Quase ninguém a via, a não ser eu, que tinha que me baixar para o fazer. A privacidade protege-se com gestos ridículos. As senhoras que limpavam a redação certamente a terão encarado. E isso passou-me pela cabeça quando a colei ali. Serviria para ser olhada quando precisasse de calma, mas nessas alturas esquecia-me dela. Ainda se fumava nas redações. Olhava-a nos tempos mortos. Foi o último vestígio das colagens adolescentes no quarto. Um dia rasgou-se, estava desfeita quando a procurei num regresso de férias. Transporto-a comigo, não só porque o papel se desfez mas porque consegui deixar de ter secretária. Trago-a porque é um ideal imperfeito de três pessoas. Três. Estão a rir, enquanto velejam. Cheias de estilo e de incoerências que só elas saberiam explicar. Se quisessem. Longe do julgamento alheio, de que gostavam, só podiam gostar. Parecem felizes e seguem em frente.


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