Coloquei a imagem debaixo da
secretária. Quase ninguém a via, a não ser eu, que tinha que me baixar para o
fazer. A privacidade protege-se com gestos ridículos. As senhoras que limpavam
a redação certamente a terão encarado. E isso passou-me pela cabeça quando a
colei ali. Serviria para ser olhada quando precisasse de calma, mas nessas
alturas esquecia-me dela. Ainda se fumava nas redações. Olhava-a nos tempos mortos. Foi o último vestígio das
colagens adolescentes no quarto. Um dia rasgou-se, estava desfeita quando a
procurei num regresso de férias. Transporto-a comigo, não só porque o papel se desfez
mas porque consegui deixar de ter secretária. Trago-a porque é um ideal
imperfeito de três pessoas. Três. Estão a rir,
enquanto velejam. Cheias de estilo e de incoerências que só elas saberiam explicar. Se quisessem. Longe do julgamento alheio, de que gostavam, só podiam gostar. Parecem felizes
e seguem em frente.
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