domingo, 30 de junho de 2013

beloved

"Em cinco tentativas não teve um único sucesso permanente. Cada uma das suas fugas (de Sweet Home, de Brandywine, de Alfred, na Geórgia, de Wilmington, de Northpoint) tinham-lhe saído frustradas. Sozinho, sem disfarce, com a pele visível, cabelo memorável e sem nenhum branco para o proteger, nunca conseguiu evitar ser capturado. O período de tempo mais longo fora quando fugira com os condenados, ficara com os cherokee, seguira os conselhos deles e ficara escondido com a tecelã em Wilmington, no Delaware: três anos. E em todas as suas fugas não conseguiu evitar sentir-se surpreendido por aquela terra que não era a sua. Escondeu-a no peito, escavou a terra em busca de comida, agarrou-se às suas margens para saltar cursos de água e tentou não a amar. Em noites em que o céu era pesado, fraco pelo peso das próprias estrelas, obrigava-se a não a amar. Os seus cemitérios e rios baixos. Ou apenas uma casa – solitária sob uma amargoseira; talvez uma mula aparelhada e a luz a incidir-lhe no pelo de uma certa maneira. Qualquer coisa o comovia e esforçou-se para não a amar".


Toni Morrison, “Beloved”

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