sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Margarida Marante

Há muitos anos o meu pai, na qualidade de dirigente da Confederação Nacional de Agricultura (CNA), foi entrevistado pela Margarida Marante. Eu e a minha mãe ficámos à espera no lobby da antiga RTP, numas cadeiras que recordo de pele ou napa pretas, sofisticadas para a altura, relativamente desconfortáveis para uma criança. E dos comentários que nos fez à saída lembro-me com uma nitidez estranha ter dito: “É uma mulher muito interessante”. Interessante para o meu pai era mais que bonita. E a minha mãe, que agora diz que não se lembra de nada disto, disse em jeito de pergunta “mas e aquele nariz”. O meu pai tornou a dizer: “É uma mulher muito interessante”.


A Margarida Marante possuía a rara conjugação de qualidades que fazem uma excecional entrevistadora. E a sedução integrava esse núcleo central. A sedução no sentido mais nobre e elegante. A sedução que faz parte de um jogo de pensamento, palavra e ação que é conduzir uma conversa, confrontar, refutar, contrapor, ceder e voltar a atacar. Pode parecer uma imagem demasiado beligerante, mas na realidade não era. A Margarida Marante não escondia as suas posições políticas e era muitas vezes assumidamente arrogante, mas sabia colocar perguntas e fazia tudo para ter as respostas, numa coreografia de inteligência e telegenia.

A Margarida Marante era uma estrela. Sim, era. E não há que fugir das palavras por serem de determinado universo hollywodesco ou dito cor-de-rosa. As palavras que se usam nestes contextos são muitas vezes mal empregues, inutilizadas em situações e pessoas que as não merecem. A Margarida Marante era uma estrela.

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