"Anthony Whitelands sempre gostou de Madrid. Ao contrário de tantas outras cidades de Espanha e da Europa, a origem de Madrid não é grega, nem romana, nem sequer medieval, mas renascentista. Filipe II criou-a a partir do nada, estabelecendo ali a corte em 1561. Por esse motivo, Madrid não tem mitos fundadores que remontem a uma obscura divindade, nem uma virgem romântica a acolhe debaixo do seu manto de madeira talhada, nem uma augusta catedral projeta a sua sombra afilada na parte velha. No seu escudo não se ostenta um aguerrido matador de dragões; o seu santo padroeiro é um humilde camponês em cuja memória se organizam arraias e feiras taurinas. Para manter o dom natural da sua independência, Filipe II construiu o Escorial e afastou assim de Madrid a tentação de se converter num centro de espiritualidade, para além de ser um centro de poder. Com o mesmo critério, rejeitou El Greco como pintor da corte. Graças a estas medidas prudentes, os madrilenos têm muitos defeitos, mas não iluminados".
Eduardo Mendoza, “Rixa de Gatos”, Sextante editora.
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