“Como falar com o pai”. Assim, simples e direto em cima do balcão dos correios. Além do título, chamou-me a atenção o aspeto de livro infantil. Só que os livros mesmo importantes são os que não servem para nada. Aquele como queria ser útil, era completamente dispensável. A não ser pelo título, que devia ser a negação do conteúdo, mas não era, queria mesmo dar conselhos. Havia uns desenhos fofinhos e umas generalidades minúsculas que até servem a alguns homens, a alguns pais. Ao meu, claro, não. As pessoas mais importantes da minha vida deram-me silêncios, que é uma coisa de que estou sempre deficitária, é normal que não fosse muito competente a falar com elas. As recordações de alguns silêncios fazem de nuvens de bem-estar e às vezes voltam a estar por cima da minha cabeça. Tão bom. O meu avó a ouvir música clássica e eu a estudar política externa norte-americana. Horas e horas de tardes em dezembro, naquela altura em que as pessoas andam loucas. Tão bom.
“Como falar com o pai” podia ser o subtítulo de “Somewhere”, de Sofia Coppola, num desses títulos compostos mais ou menos foleiros que agora querem resgatar o que se perde na tradução. Só que “O amor é um lugar estranho” não é proeza que se repita assim. Falo da tradução.
Os pequenos tédios do amor filmam-se como? E as apoteoses do quotidiano? Como Sofia Coppola. Usando o tempo. O Cinema é sobretudo tempo, lamento, Manuel de Oliveira haters. E com uma banda sonora feita para dar as costas a um carro ridículo e seguir a pé, à procura daquilo que é chato e difícil e nunca acaba.
a mim que sobra silêncio no cinema que não vou vendo, fiquei deliciado com estes pequenos silêncios contados.
ResponderEliminar:) descarrega e vê em casa, se as senhoras da tua vida deixarem :)
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