Fotografia de Tina Crespo, ou de como a internet é um sítio maravilhoso, é preciso é saber para onde olhar
A minha geração está entre os traseiros despidos que levaram uma ministra de Cavaco Silva a generalizar a falta de educação a uma geração inteira e uns miúdos que tiveram uma ideia e a colocaram no facebook usando o nome dado à outra geração. Amigos quinhentoseuristas, eternos contratados, com e sem recibos verdes, um primo engenheiro que acabou de emigrar. Amigos nos quadros de empresas, que vivem com conforto mas ainda não conseguem pensar em ter filhos, outros que já os têm, com e sem sacrifícios. Não tenho muita preocupação em saber onde está a minha geração. Gosto dela mesmo assim, sem saber que nome lhe dar. Como gosto da geração dos meus pais. No dia 12 de Março vi muitas pessoas de várias gerações a descer a Avenida da Liberdade que sabiam bem porque ali estavam. As palavras de ordem inventadas, o percurso que não se sabia onde começava ou terminava, a inorgânica maravilhosa de ver para quem já viu algumas manifs não conseguiram tapar que, na generalidade, aquelas pessoas sabiam o que estavam ali a fazer. E sabiam-no "sozinhas", não porque tinham sido guiadas por um partido ou sindicato. Mas também não estavam contra os partidos ou os sindicatos. Aliás, o protesto não foi convocado contra eles. O folclore, as causas dispersas, não chegaram para borrar o tom geral. Esclarecido e pacífico. E divertido.
O que são esses tais "recibos verdes", Clô?
ResponderEliminarAcompanhei essa manifestação do dia 12 pelos jornais daqui, mas não sei bem o que dizer a respeito estando longe dos fatos e sem compreender a fundo suas conexões, implicações, etc (como referente também à geração rasca, aos Deolinda et al.).
Os "recibos verdes" são a designação popular para a situação das pessoas que têm um contrato de prestação de serviços (têm que passar esses recebidos, que são verdes :) e não um contrato efetivo de trabalho. Muitas destas pessoas trabalham com um horário de trabalho estabelecido, obedecem a uma hierarquia, cumprem funções necessárias a uma empresa ou serviço público. Logo, o facto de terem de este contrato de prestação de serviços é ilegal. Em situação de desemprego, maternidade, doença, etc, estas pessoas estão completamente desprotegidas. Os "recibos verdes" são um dos aspectos da precariedade laboral que afecta sobretudo os jovens qualificados - com licenciaturas e mestrados - em Portugal, mas também afecta pessoas menos jovens.
ResponderEliminarAgora a geração rasca... Há cerca de 15 anos, houve uma manifestação estudantil em que alguns manifestantes mostraram o traseiro :) Em reacção, a ministra da Educação chamou-lhes a geração rasca. A geração à rasca, em dificuldades, em apuros, vem desta associação :)
A música dos Deolinda fala sobre a tal precariedade laboral destes jovens bem qualificados, foi tocada ao vivo num concerto (não está gravada ainda) e tornou-se um êxito através das redes sociais, sobretudo do facebook... Não sou grande fã da música deles, mas a verdade é que têm recebido prémios e reconhecimento nacionais e internacionais...
E pronto, espero ter esclarecido alguma coisa :)
Nossa, e como esclareceu, entendi tudinho! :)
ResponderEliminarAqui há algo semelhante, a que chamamos 'economia informal', embora não haja bilhetes de qualquer cor. Na realidade, o governo é quem dá o cartão vermelho (como no futebol) a milhares de pessoas, quando não lhes garante emprego para que estejam na economia formal, com todos seus direitos (aposentadoria, previdência, etc). São aspectos que o Capitalismo ainda precisa melhorar.
Muito obrigado, você é uma ótima professora :o)