segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

elogio da Política, elogio do que somos


O meu Pai dizia uma coisa que me irritava e que eu agora estou sempre a dizer. Um clássico. Que é também um clássico do cinema norte-americano e um lugar recorrente dos filmes de Steven Spielberg, uma marca a que “Lincoln” também não escapa. Eu e o meu Pai. O subtexto de uma cinematografia que parece a dialética de um país.

“Tudo é político”. Era isto que o meu Pai dizia. Era isto que eu não gostava. O que eu queria era que nem todas as conversas fossem lá parar. Sobretudo com visitas à mesa. Era embaraçoso. Hoje sei, tudo é político, tudo é Política. E não amamos menos por causa disso.

“Lincoln” é o Presidente e a sua circunstância. Bendito seja Daniel Day Lewis, que pegou numa caricatura e fez dela um homem. “Lincoln” é a Política e a circunstância histórica de fazer passar uma emenda à Constituição dos Estados Unidos que aboliu a escravatura. É a Política enquanto a arte mais nobre, para o Povo e pelo Povo, que sujas as mãos, não é bonita e é a coisa mais bela de todas. Compra votos, persuade, faz concessões, encontra o compromisso, bate-se na arena da inteligência, encontra um tempo para a ação. Concretiza. Faz a humanidade inteira avançar com um gesto.

Na discussão para a abolição da escravatura encontramos os argumentos com que nos massacram até hoje, sempre que se trata de avançar. Que é uma coisa que acontece todos os dias, quer queiramos ou não e não há Economia que o impeça.

Abolir a escravatura abre um precedente. Depois o que virá? Os negros poderão votar? Último dos argumentos que saltariam desta caixa de Pandora que ameaçaria uma forma de vida: por este caminho, um dia, as mulheres poderão votar.

O paternalismo, outro dos argumentos dos moderados, dos anti-esclavagistas: não estamos preparados. A sociedade não está preparada. Os negros não estão preparados. O que é que eles farão com a liberdade? Como viverão nessa condição?

Resposta de um republicano pró-emenda: Quando forem livres, serão livres.

Sejamos livres. E contemos com a Política. A democracia não é para burocratas.

2 comentários:

  1. quero muito ver esse filme, sobretudo pelo daniel day-lewis, ator maravilhoso de quem sou fã de carteirinha; quanto ao tema, lamento não ter assistido ainda o lincoln do john ford (à exceção desse, já assisti todos os outros filmes maiores, digamos, e uma boa parte dos filmes menores desse grande diretor), pois gostaria de, sei lá, comparar os dois, ainda que talvez isso não faça muito sentido; enfim.
    um abraço :)

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  2. O Daniel Day Lewis é fenomenal... Quanto ao filme do Ford, também ainda não vi, mas tenho vontade e acho que estabelecer a ponte entre os dois faz todo o sentido. um abraço ;)

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